"No primeiro turno jogamos contra o São Gabriel como lanternas do campeonato. Fomos humilhados, chamados de time de segunda", recorda-se Valmor Müller, roupeiro do time naquela época. Hoje em dia, ganha a vida como taxista, orgulha-se também de ser vizinho da casa do Guarani e se entusiasma ao falar a respeito da trajetória de Mano.
Müller diz que as maiores alegrias de sua vida vieram graças ao treinador. "Ele foi nosso terceiro técnico naquele campeonato (Paulo Porto e Eugênio Silva haviam sido demitidos)", recorda. "Depois de brilhar nas categorias de base, assumiu o profissional com apenas 10 pontos e caindo. Conquistou 27 em 36 pontos disputados para ganhar o segundo turno e, na casa do São Gabriel, erguer a taça."
Com olhos marejados e emocionado, mostra cada foto do "cantinho da glória" em sua casa. "Olha eu aqui, perto do Mano", aponta. "Nossa, quanta saudade. Ele sempre foi muito inteligente. Ninguém o passa para trás. Uma vez estávamos falando da escalação do time, eu e o Alface (massagista), e ele ouviu. Veio nos cobrar na beirada do campo. Se tiver 50 pessoas à sua volta, falando, palpitando, ele está ligado em todas."
A história de Mano com a camisa rubro-negra do Guarani, contudo, começou em 1985, nos juniores. Zagueiro e capitão, cobrou o pênalti do título amador de 1988 e dirigiu as categorias de base até 1992. Sempre entre os melhores. E segue até hoje.
Em dificuldade financeira, o clube joga apenas o campeonato juvenil. Sua ambição é de recomeço em 2010. Mas deve adiar para 2011. "Sempre recebo conselhos do Mano. Ele me disse que devemos ter os pés no chão, ir com calma", revela o presidente do clube, Marcelino Coutinho, conhecido como Marquinhos. "O Mano veio para cá no fim do ano, num reencontro dos vencedores de 1988 e nos deu muitos conselhos. Gostaria de tê-lo aqui nos ajudando mais, mas sei que é impossível."
Lamenta e deixa o clube correndo. Diferentemente dos grandes centros, viver do futebol em Venâncio Aires é impossível. Divide o tempo nas funções de presidente do clube, vereador e empresário. "Mas fale aqui com este homem, ele conhece tudo sobre o Mano e o Guarani", pede, indicando Romeu Siebeneicher, presidente em 1974, 1976, 1978, 1979 e 2005.
"Ele começou comigo, posso dizer que o Mano mais conhecia os atalhos do que jogava", brinca Romeu, provocando seu Müller, que rebate: "Conversa, o homem jogava muito." Romeu admite. "Verdade, era de personalidade, zagueiro de chegada."
Romeu também é fã de carteirinha de Mano. E revela vir desde aquela época o esquema vencedor no Corinthians. "Ele colocava um jogador armando no meio, um em cada ponta e um centroavante. Tudo começou aqui", gaba-se. "O Mano trabalhava muito, conversava, era fantástico", observa.
"Ele montou cada timaço aqui. O de 1997 era fantástico. Olha aqui, tem o Bolívar (hoje no Internacional), o Marcus Vinícius (atacante que fez 28 gols no Gaúcho de 1997), Eliomar (autor de mais de 100 gols e destaque na Ásia e Europa), Luizinho Netto (campeão da Copa do Brasil em 2008 pelo Sport), Sandro Oliveira (jogou no São Paulo). O Caio Júnior, técnico do Flamengo também trabalhou com ele", lembra. "Era cada chocolate, de cinco pra cima. Ganhamos do Avaí, do Iraty, só goleadas. Se não tivessem acabado com a Copa Sul-Minas, hoje estaríamos entre os grandes da Primeira Divisão."
No Olho da Rua
Quem pensa que Mano só viveu alegrias no Guarani, engana-se. O herói do clube da Capital Nacional do Chimarrão também teve o dissabor de ser demitido. "Ele não aceitava interferência no trabalho, desde muito novo era rígido, firme", recorda Romeu. Foram três, todas informadas por Paulo Batisti, ex-dirigente do clube.
"O Batisti fazia parte da direção e era o responsável por informar o Mano. Alegavam que era por falta de resultados, mas na verdade os dirigentes tinham uma certa inveja do Mano. Queriam usar seus jogadores, dar palpite. Como já disse, isso não existia com o Mano e sempre ficou comprovado que ele era o melhor", afirma Romeu.
A Tribo Guarani, torcida organizada do Rubro-Negro, concorda. E estuda encomendar um busto ou uma placa em homenagem a Mano. Seria o cartão de visitas e ficaria na lojinha oficial, a Oca da Índia.
Recordações
Valmor Müller
ex-roupeiro do Guarani"Depois de brilhar nas categorias de base, assumiu o profissional com apenas 10 pontos e caindo. Conquistou 27 em 36 pontos para ganhar o 2.º turno e, na casa do São Gabriel, erguer a taça."
Romeu Siebeneicher
ex-presidente do time"Ele colocava um armando no meio, um em cada ponta e um centroavante. Tudo começou aqui"
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Fonte: Estadão
Data de publicação: 06/07/2009