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Ao lado do povo, Mano crê no futebol arte e evita comparações com Dunga
Treinador acredita que indo aos estádios brasileiros pode ter um retorno fiel do que pensa o torcedor. Ele fala também da necessidade do jogo bonito

Ao assumir a Seleção Brasileira, há dez meses, Mano Menezes encontrou uma novidade: tempo livre. Fins-de-semana disponíveis. Quartas à noite sem programa. Depois de anos trabalhando em estádios de futebol - ele, ao aceitar o convite da CBF - ganhou folga. Dias de folga. A obrigação semanal de estar num banco de reservas desapareceu. O que fazer com esse tempo livre?

Mano decidiu... trabalhar. Decidiu ir aos estádios - ver jogos - e ser visto vendo jogos. A ideia era até simples: trabalhar, mostrar trabalho, e se aproximar da arquibancada. Mostrar ao torcedor que o treinador da seleção não é uma entidade intocável e distante. Ao contrário de Dunga, que preferia não ser visto - e exibia a ocasional banana diante do protesto - Mano entendeu cedo que ser visto faz parte de seu trabalho. E que estar nos estádios ajuda a relação do treinador com seu cliente derradeiro, o torcedor.

Claro, Mano e a torcida ainda estão em lua-de-mel - é cedo - e ele sabe disso. Mas sabe também que tem uma chance histórica nas mãos. Com 2014 na mira e uma geração espetacular nas mãos, o técnico não olhou para trás. Ignorou as pouco populares preferências de Dunga (Kléberson, Josué, Júlio Baptista...) e apostou no futuro. Já na sua primeira convocação, chamou Ganso e Neymar. Lucas entrou na mira. Tirou de campo o futebol pragmático-e-se-der-bonito. E escalou o futebol-bonito-mas-também-prático. É uma mudança que parece sutil - mas é radical.

Nessa segunda parte da entrevista exclusiva, o técnico da Seleção Brasileira fala também dos adversários do Brasil na primeira fase da Copa América (Venezuela, Paraguai e Equador), daqueles que podem atrapalhar a busca pelo título e da importância de sua primeira competição oficial no projeto 2014. Boa leitura!


GLOBOESPORTE.COM: A Copa América é a primeira competição oficial da Seleção Brasileira sob o seu comando. O que ela representa para o seu trabalho?
MANO MENEZES: Nós dividimos a formação da Seleção Brasileira para a Copa do Mundo de 2014, que é o mais importante, em três estágios. E o primeiro passa pela Copa América. Nós deixamos bastante claro desde o início que por não termos as eliminatórias durante esse período, nós teríamos que nos apoiar de forma mais concreta e estabelecer parâmetros mais confiáveis nas competições oficiais, que são a Copa América, as Olimpíadas, para um grupo específico e a Copa das Confederações. Na Argentina, nós vamos nos reunir pela primeira vez por um tempo longo e enfrentar adversários muito bem preparados. Vai ser bom para ver qual será a reação da Seleção Brasileira e dos jogadores mais jovens. É tudo o que precisamos para ter um parâmetro mais fidedigno lá na frente.

Você disputou a Libertadores com o Grêmio e também com o Corinthians. Sua experiência nessa competição facilita para a Copa América?
Claro! Facilita muito na identificação da maneira como cada país joga, porque, na verdade, os principais representantes desses países fornecem a maioria dos jogadores para suas seleções. E consequentemente eles vão ser muito parecidos na seleção do que são nos seus clubes. E aí você tem uma ideia de características de jogos. O próprio comportamento nos jogos na América do Sul, fora do Brasil, é diferente. O clima nos estádios, o ambiente da torcida... É importante os jogadores estarem preparados para isso. E essa preparação vem da própria participação dos atletas na competição e da experiência do técnico em termos de conhecimento.

Você tem ido a muitos jogos pelo Brasil, pelo mundo e tem tido contato com o povo. Está feliz com o retorno?
Eu vejo esse contato como algo positivo para você entender a essência do que o torcedor está pensando. Vivo bem essa relação com o torcedor brasileiro. Tenho andando pelo Brasil todo, pelos estádios... isso, ao mesmo tempo que me expõe mais com o torcedor, me dá uma fidelidade maior do seu pensamento. E, momentaneamente, ele tem tido esse comportamento positivo, de carinho. Penso que é proporcional à expectativa que se cria sobre os jogadores.

A comparação é inevitável, mas a Seleção do Dunga era mais fechada e ele não tinha esse contato com o povo...
Durante esse tempo todo eu procurei evitar comparações. Não sou eu que as faço. Elas são inevitáveis, mas é importante também entendermos as diferenças. Temos de levar em consideração que a próxima Copa do Mundo será jogada no Brasil. Então, algumas atitudes serão diferentes das tomadas anteriormente. E elas têm de ser diferentes mesmo. Tudo isso que vamos colher agora, nós vamos usar mais na frente, nos momentos mais importantes. Eu tenho comentado um pouco sobre o comportamento do torcedor brasileiro: aqueles que vivem lá fora têm uma compreensão maior, porque vão convivendo com as diferenças culturais de lá e mudando o comportamento. Todas as informações que pudermos retirar desse contato com o torcedor vai ser importante para que estamos fazendo na Seleção.

Você conversou com o Dunga desde que assumiu a Seleção?
Não. Não conversei. Eu penso que vai chegar o momento que vamos ter mais contato. Eu apenas procurei que não fosse agora, não tomei a iniciativa, porque penso que pós-derrota, como o caso da Seleção Brasileira na Copa do Mundo, ele pode guardar muito mais sentimentos negativos do que positivos, até em relação ao seu próprio trabalho, que foi bom no contexto geral. E eu quando procuro falar com as pessoas, procuro levar para esse encontro, conhecimento pessoal, e eu não tinha conhecimento pessoal de Seleção Brasileira para estabelecer um diálogo. Quando você não tem conhecimento fica quase que um monólogo. Uma conversa, para ser boa, tem que ter o contraponto, para questionar alguns assuntos.

E o que você acha da cobrança pelo jogo bonito?
Nos últimos anos, o futebol tem exigido isso. E não devemos abrir mão dessa exigência nunca. Às vezes não é possível, mas não deve se deixar de ter o entendimento como crítico. Não pode deixar de querer um futebol bonito paralelamente ao resultado. Lógico que isso é maior. Na busca disso deve ser proporcionalmente maior. Se os brasileiros estão entre os melhores do mundo, nós temos condição de aliar isso ao resultado.

Fonte: Globoesporte.com
Data de publicação: 27/05/2011


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