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Mano Menezes

Noticias


Foto: Sérgio Miguel Santos/ASF

Mano é entrevistado pelo jornal A BOLA de Portugal

Edição do dia 21 de junho do jornal português traz uma entrevista exclusiva com o técnico Mano Menezes. Confira na íntegra a matéria
Mano Menezes, 53 anos, selecionador do Brasil entre 2010 e 2012, está em Portugal a frequentar um curso de treinadores. Quer aprender e está disponível para, um dia, aceitar um convite de um clube europeu. Simpático e afável, recebeu A BOLA em Fátima e mostra-se surpreendido com muita coisa no futebol português.

Entrevista de Rogério Azevedo
Rogério Azevedo: Qual a razão de alguém chamado Luiz Antônio Venker Menezes se passar a chamar Mano Menezes?
Mano Menezes: Vem de casa. Irmão no Brasil é mano. Esse apelido [alcunha] vem desde muito pequeno. Tenho uma irmã ano e meio mais velha e ela é que começou a chamar-me de mano. Depois, enquanto futebolista, tinha esse nome: Mano. Quando me tornei técnico, e como nós, técnicos, gostamos de um pouco de pompa [risos], acrescentei o sobrenome e fiquei Mano Menezes.

RA: Nasceu em Passo do Sobrado, no Rio Grande do Sul. Os gaúchos são vistos como homens de personalidade forte e prontos para a guerra. É o seu caso?
MM: Há muita descendência europeia na região: italianos, poloneses [polacos], e alemães, por exemplo. Sou de origem alemã, pois Venker é alemão. Os gaúchos são muito disciplinados, têm educação virada para o rigor e a disciplina. E, quando nos tornamos técnicos, levamos essa disciplina para dentro de campo. O técnico gaúcho é exigente e disciplinador.

RA: Personalidade forte não o impede de ter sentido de humor. Há menos de um mês, quando um jornalista lhe perguntou se andava a transar [fazer sexo] bastante, respondeu: "No mínimo, três vezes por dia. Estou com tempo"> Não é fácil ter sentido de humor sendo figura pública.
MM: O futebol permite que tenhamos alguma dose de humor, desde que saibamos o momento exato para isso. A situação não deve ser forçada. Mas a minha resposta teve um nuance: não disse no mínimo, disse no máximo [risos].

RA: Peço desculpa pelo exagero. Os quatro últimos selecionadores brasileiros são gaúchos: Dunga, Mano Menezes, Luiz Felipe Scolari e de novo Dunga. Questão de carisma?
MM: Mera coincidência. Profissionais capacitados nascem em qualquer parte do mundo. Tem a ver, sobretudo, com resultados. Scolari foi campeão do mundo em 2002, Dunga fez um bom trabalho e, apesar de eliminado pela Holanda no Mundial-2010, esteve muito bem. E isto dá credibilidade. É, no findo, aquilo que está a acontecer agora com os treinadores portugueses no mundo.

RA: Estagiou no Cruzeiro, em 1997, com Paulo Autuori, logo a seguira ele ter sido afastado de treinador do Benfica. Marcou-o?
MM: Quem me apresentou o Paulo Autuori foi o Caio Júnior, que jogou em Portugal [V. Guimarães, E. Amadora e Belenenses] e que hoje é treinador. O Caio foi meu jogador quando treinei pela primeira vez e, um dia, perguntou-me se eu não quereria fazer um estágio com Paulo Autuori, que então estava no Benfica. Disse logo que sim, pois era importante ter contacto com pessoas que estavam num mundo muito maior do que o meu. Entretanto, Paulo Autuori sai do Benfica, vai para o Cruzeiro e acabei por estagiar com ele. Tem muita importância na minha carreira e também em alguns posicionamentos meus em relação ao futebol. Ele confirmou algo que eu já tinha ideia: é possível, num mundo competitivo como o futebol, você ser correto.

RA: Já esteve no Grêmio, Corinthians, Flamengo e seleção do Brasil. Que se segue: o estrangeiro?
MM: Os técnicos estão sempre abertos a novas oportunidades. No meu caso, procuro estar o melhor preparado possível para essas oportunidades. O que me propus fazer neste primeiro semestre de 2015 é, não aceitando qualquer convite de clubes brasileiros, qualificar-me ainda mais para a função de treinador. E como Portugal está, neste campo, muito mais avançado, vim até cá para aprender, ficando por cá durante 45 dias. O treino em Portugal é hoje de altíssimo nível.

RA: É treinador caro para a Europa?
MM: Não podemos colocar o dinheiro acima de objetivos profissionais. Se calhar, talvez seja mais fácil dizer isto quando já se tem um pouco de dinheiro guardado [sorri]. Em alguns momentos, as oportunidades são mais importantes do que as propostas financeiras. O dinheiro pode surgir, mais à frente, se trabalharmos bem.

RA: As verbas que têm vindo a público, por exemplo, relativamente a Jorge Jesus, quer no Benfica quer agora no Sporting, são da ordem dos 4, 5 ou 6 milhões de euros brutos anuais. São valores ao nível dos praticados no Brasil?
MM: No Brasil paga-se em torno de 500 mil reais por mês [cerca de 170 mil euros] para um técnico de ponta. São bons salários nos dois lugares.

RA: Conheceu muitos treinadores portugueses no curso?
MM: Sim. Já conhecia alguns e, por exemplo, quando estava na seleção, tive diversos contatos com Jorge Jesus. Umas vezes para eu saber detalhes de brasileiros a jogar em Portugal, outras vezes ele a pedir informações sobre brasileiros a jogar no Brasil. Conheci Rui Vitória e Leonardo Jardim há algum tempo, agora estou a conhecer alguns que têm agora as primeiras oportunidades de alto nível.

RA: Com que ideia ficou de Jorge Jesus nos contatos que tiveram?
MM: Como pessoa o contato foi muito escasso para ficar com uma ideia concreta. Pareceu-me correto, preocupado com o futebol e, sobretudo, com os detalhes. Pelo tipo de perguntas técnicas que me fez e por algumas respostas que me deu, percebi que é muito dedicado ao futebol.

RA: O Mano esteve no Corinthians e no Flamengo, talvez os dois clubes brasileiros com mais adeptos. É complicado para um treinador, como no caso de Jorge Jesus, sair diretamente de um grande clube para outro?
MM: Talvez essa comparação deva ser feita de outro modo: passar do Grêmio para o Internacional, ambos do Rio Grande do Sul, cujos estádios distam dois quilômetros um do outro; sair do Cruzeiro para o Atlético Mineiro em Minas Gerais; saltar do Flamengo para o Vasco da Gama no Rio de Janeiro. São exemplos de clubes da mesma cidade e com grande rivalidade. Acredito que, como profissional, você tem de ter uma linha de conduta: dar o máximo pelo clube onde está, sempre respeitando os outros. Se estabelecermos esta relação de respeito, podemos trabalhar em qualquer clube.

RA: Chegou a Portugal num momento em que só se fala de treinadores: Jorge Jesus, Marco Silva, Rui Vitória, Julen Lopetegui, Sérgio Conceição, Paulo Fonseca. Achou um ambiente estranho?
MM: É uma época propícia a falar-se em hipóteses, em boatos, em algo não palpável. A bola não está rolando e vocês precisam de trabalhar [sorrisos]. A troca fundamental que deu

RA: Pode dar um exemplo?
MM: Dispensa por justa causa. Esta situação, até para um brasileiro, é completamente nova. Mas aprendendo e vendo como é...

RA: No Brasil nunca aconteceu?
MM: Não. Mas mais estranhos são os motivos pelos quais isso está a acontecer. Mas não sou ingênuo e sei como é o mundo do futebol. Por vezes, são questões estratégicas ou econômicas do clube. Mais lá para a frente tudo se saberá...

RA: Que é mais importante numa equipa: os jogadores ou os treinadores?
MM: Os jogadores. Os artistas que executam são eles, mas nunca os técnicos tiveram tanta importância. É uma pergunta interessante: até quando os técnicos vão suportar esta onda? Cada vez é maior a exigência. Um treinador, de momento, precisa de dominar muitas áreas, além da parte técnica: precisa de ser bom gestor, bom psicólogo e bom comunicador, por exemplo.

RA: Espécie de canivete suíço.
MM: Um treinador tem de ter atributos que dificilmente se concentram numa pessoa só, mesmo que se prepare bem. Há ainda a pressão da torcida e dos meios de comunicação. Não sei até quando vamos suportar tudo isto.

RA: E como se avalia um treinador: apenas pelos resultados ou também pela qualidade do futebol da equipa?
MM: O mais importante é vencer. Se não vencermos não levamos para a frente nenhum projeto. Mas, como amantes do futebol, temos de estar atentos à qualidade daquilo que oferecemos ao torcedor. Se assim não for, ele um dia vai preferir outros desportos. Para que o jogo volte a ser mais valorizado, terão de mudar as avaliações feitas externamente.

RA: Se tivesse de construir uma equipa do zero, com total disponibilidade financeira, por qual setor começava?
MM: Não é possível repartir uma equipa por compartimentos. Já passou a época em que fazíamos trabalhos compartimentados, tipo primeiro físico e depois tático. Hoje é tudo um todo. A equipa é um todo. Mas é bem mais difícil construir a parte ofensiva.

RA: Porquê?
MM: Simples: porque destruir é mais fácil do que construir. Os atacantes agora estão a participar muito mais na retoma da bola, obviamente dependendo da filosofia de cada técnico. Temos de enxergar o futebol como um todo.

RA: Seria possível conciliar Messi, Ronaldo e Neymar?
MM: Claro que sim. No Brasil temos um exemplo do que foi feito, com muita maestria, com muitos e grandes jogadores, todos de características muito parecidas, na fase final do Mundial-1970 [Gerson (São Paulo), Tostão (Cruzeiro), Rivelino (Corinthians), Pelé (Santos), Jairzinho (Botafogo)]. Se olhar essa seleção do meio para a frente...

RA: Eram todos números dez das suas equipas...
MM: ... isso! É um exemplo claro que é possível estabelecer conciliação
entre grandes jogadores. O Barcelona, por exemplo, conseguiu fazer o mesmo com Messi, Suárez e Neymar. Mas depende sempre da mentalidade, da inteligência e do espírito coletivo dos seus jogadores.

RA: Como é visto no Brasil o treinador português?
MM: Muito bem. O treinador português está a produzir muito bons resultados um pouco por todo o mundo.

RA:José Mourinho aparece no topo e depois mais quem?
MM: André Villas Boas. Veio depois de Mourinho e teve uma ascensão muito rápida. Inclusive clubes brasileiros já conversaram com ele. Quando ele esteve no Brasil há dois ou três anos, almoçamos juntos e, na época, já o São Paulo estava de olho em André Villas Boas.

RA: A comunidade de treinadores brasileiros parece muito hermética: não saem do Brasil, mas também são raros os estrangeiros que entram. Alguma razão especial?
MM: A maior dificuldade para um treinador estrangeiro no Brasil é a estabilidade. É tudo muito oscilante, sem planejamento, nem filosofia definida na maioria dos clubes. Ao invés, os treinadores brasileiros enfrentam, quando vão para o estrangeiro, dificuldades no idioma e na metodologia de treino.

RA: A língua é um problema, mas também em Portugal são agora raros os treinadores brasileiros em grandes clubes. O último campeão em Portugal foi Carlos Alberto Silva, em 1993, no FC Porto.
MM: É verdade. Em relação a Portugal, 50 por cento do que acabei de dizer não se passa: o brasileiro fala português, logo não tem problemas com a língua. A questão passa depois para a metodologia de treino...

RA: Scolari era visto, por muita gente em Portugal, como grande psicólogo de massas, mas mediano treinador de campo. É assim que ele é visto no Brasil?
MM: Só há uma forma de dividir os treinadores: os bons e os maus. E Scolari é um bom treinador. Fez resultados em todo o mundo que o comprovam.

RA: O 7-1 frente à Alemanha liquidou Scolari como treinador ou é ele uma espécie de gato com sete vidase, um dia, voltará?
MM: Ele já voltou. Depois do 7-1 esteve no Grêmio. Mas o 7-1 deixará marcas para o resto da vida. Para ele e para o futebol brasileiro. Os problemas do futebol brasileiro, porém, não se resumem ao 7-1. Sem o 7-1, os problemas continuavam lá. Ele apenas chamou a atenção com mais força.

RA: Scolari foi uma espécie de fantasma, enquanto esteve na seleção?
MM: Quando você tem um técnico ex-campeão¬¬ do mundo sem trabalhar, há sempre especulação. Mas, para mim, não era fantasma. Era até cômodo para a CBF levar os dois técnicos campeões do mundo pela última vez. Nunca me preocupei com isso.


"Nunca se pode dizer não à seleção brasileira"

A avaliação de dois anos à frente de uma das mais poderosas equipas do Mundo

RA: Entrou na seleção brasileira em julho de 2010 para o lugar de Dunga. Foi o momento certo?
MM: A altura certa é quando recebemos o convite. Se pudesse escolher, talvez o timing fosse outro. Mas não podemos dizer não a um convite da seleção do Brasil. Muricy Ramalho foi a primeira escolha e, como houve discordância dos ajustes finais, eu era o segundo nome. E aceitei.

RA: Como avalia os seus dois anos na seleção?
MM: Foi um trabalho muito difícil. A seleção brasileira, por onde passa, leva multidões de adeptos. Oitenta por cento dos jogadores que foram à fase final com Scolari chegaram à seleção comigo. Saí de consciência tranquila.

RA: Com 200 milhões de críticos, é necessário tomar calmantes para se ser selecionador brasileiro?
MM: É preciso ter uma linha de conduta que te ajude nos únicos momentos cruciais do futebol: quando se perde e quando se ganha. Como existe muita paixão e não existe meio-termo, tudo parece estar bem quando se ganha e tudo parece estar mal quando se perde. Nenhuma das duas teses é verdadeira. Mas nunca tomei calmantes [risos]...

RA: De todos os jogadores ligados a Portugal que chamou à seleção, há um que não se percebe como lá chegou: Bruno Cortez.
MM: -... Bruno?

RA: Bruno Cortez.
MM: Ah, sim. Foi chamado num momento em que apenas poderíamos convocar jogadores a atuar no Brasil. Fez um jogo brilhante em Belém do Pará com a Argentina. Vencemos por 2-0. Teve cãibras a 10 ou 15 minutos do final, tive de o tirar e saiu com o estádio inteiro a aplaudi-lo. Mas está entre aqueles jogadores que aparecem e já não reaparecem.

RA: O guarda-redes Artur do Benfica esteve no seu pensamento para a seleção?
MM: Nunca cheguei a colocá-lo como possibilidade. Tinha uma equipa que avaliava os brasileiros espalhados pelo mundo e estabelecemos um ranking. Nele não estava o Artur.

RA: Acredita que, um dia, na seleção brasileira estará um técnico estrangeiro?
MM: Ainda é muito complicado. Existe grande preconceito. Falou-se do Guardiola e de outros, mas os dirigentes foram claros: com a tradição brasileira de ganhar Mundiais com técnicos nacionais, não haveria alteração. A ida de treinadores estrangeiros para o Brasil é mais importante do que ir um estrangeiro para a seleção.

RA: Quem é o Pelé dos treinadores brasileiros?
MM: Respeito muito o Mário Zagallo. Passou por várias fases do futebol brasileiro e esteve sempre presente nas principais conquistas da seleção brasileira. Mas também faço essa avaliação sobre Telê Santana, que dirigiu o Brasil na Copa de 1982 [eliminado na segunda fase pela Itália, por 3-2, na chamada Tragédia de Sarriá, jogo em que Paolo Rossi marcou 3 golos]. Mesmo não a ganhando, criou uma equipa que ficou na história [Óscar, Toninho Cerezo, Júnior, Sócrates, Zico, Falcão, entre outros]. É uma grande referência. Depois tivemos Scolari e Vanderlei Luxemburgo, que durante uma época me marcaram muito. Claro que depende da opinião de cada um e do momento de cada treinador: não se é o melhor treinador, está o melhor treinador. Mas talvez colocasse Telê Santana, por ter feito mais daquilo que eu gosto.

RA: Qual a mais marcante derrota do futebol brasileiro de seleções: o 2-1 com o Uruguai em 1950 ou o 7-1 com a Alemanha em 2014?
MM: O 7-1. O 2-1 foi triste mas não foi humilhante, o 7-1 foi humilhante. É muito duro para um torcedor, habituado a ver a seleção ser campeã do Mundo, ser derrotado por 7-1.

RA: Mero acaso ou consequência de mau trabalho de anos e anos?
MM:Este tipo de goleada é sempre uma exceção. Mas foi muito duro. Quase como uma seleção profissional defrontar uma equipa de juvenis, tal a facilidade com que os golos aconteceram. Chegou um momento do jogo em que, de forma visível, a Alemanha poupou o Brasil.

RA: Sabemos quais são os nossos problemas, mas não sabemos resolvê-los, disse Mano Menezes após o Mundial. Quais eram os problemas?
MM: O mais grave é termos perdido referências. Até dado momento, jogar futebol bonito foi determinante para ganharmos mundiais, mas depois deixou de o ser. Em 1994 e 2002 passamos a vencer de forma diferente. Perdemo-nos neste emaranhado.

RA: É melhor perder como em 1982 do que ganhar como em 1994?
MM: Nunca é bom perder. Não podemos inverter a ordem: importante é ganhar. Temos é de avaliar as razões pelas quais vencemos em 1994 e em 2002 como vencemos, tal como temos de avaliar porque perdemos em 1982, jogando como jogamos. Nem tudo estava mal em 1982, nem tudo estava bem em 1994 e em 2002.